quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Capítulo 4


Capítulo 4 – 

Um Dia De Folga

   - Arwen! – gritou Nogard em sua voz de criança eufórica.
  A cabana de Arwen ficava entre duas grandes rochas cobertas de flores, onde Mawreen, mãe de Arwen, fazia questão de perder boa parte do dia tratando das belas rosas, era uma cabana não muito grande, com um teto de palha, duas pequenas e estreitas janelas sobre a porta pesada de carvalho, possuía uma pequena área que separava a cerca viva de trepadeiras e a porta, onde haviam mais plantas e flores. Mawreen era natural da outrora bela Bolkur, a Cidade Verde, como era chamada, e como toda boa Bolkuriana, amava as plantas e a natureza.
  A Cidade Verde de Bolkur era conhecida como a cidade mais bela de toda a Andor, sua muralha era um emaranhado de pedras, tijolos e trepadeiras, tão verdes quanto os Campos de Vitendor, possuía inúmeros jardins espalhados por todas as ruas e casas e as mais belas fontes já vistas, com esculturas de mármore e serpentina, os olhos de todas as estátuas eram feitos de olivina, um material raro e muito brilhante, o que lhe concederam a denominação de Estatuas que Observam. Quando a guerra veio, Bolkur foi a primeira cidade a enfrentar e sofrer a ira das sombras, e as chamas negras de Lutheraxes. Suas muralhas encandeceram-se e suas casas tornaram-se piras funerárias, o caos se instalou em toda a imensa cidade e nada pode ser feito para salva-la, a noite tornou-se dia e podia-se ver a cidade em chamas a muitas léguas de distancia, existe um mito de que naquela noite pode-se ouvir os rugidos e os lamentos de seu antigo protetor, Guerdhenrax, o Dragão Verde, Força da Natureza. Que também tinha abandonado os homens.
  Arwen pôs a cabeça para foda da porta de carvalho semi-aberta.
  - Só um minuto. – e entrou na casa, saindo pouco tempo depois – Bom dia.
  - Bom dia mesmo, Arwen vou virar um cavaleiro! – disse Nogard ,confundindo o fato de que estava indo para Pescoço dos Homens para o comércio e não para o treinamento – Parto amanha bem cedo.
  A expressão de Arwen não foi de felicidade ou alegria, sonhava em ver os cavaleiros, em ser uma escudeira, o que era pouco provável em Andor, e este sonho parecia cada dia mais distante, e com a ausência de Nogard ali em Ferro Forte, não poderia treinar nunca mais.
  - Venha vamos ao rio – disse Arwen puxando Nogard pelo braço -, la continuamos essa conversa, meus pais podem ouvir aqui.
  E eles foram descendo a vila, passaram novamente por Patio dos Arqueiros, e pela casa do senhor Halgul, que estava em sua cadeira de balanço, fumando cachimbo e com a mesma cara de rabugento de sempre. Nogard olhou para Arwen e ela entendeu o seu olhar, eles olharam para o senhor Halgul e mostraram as línguas.
  E correram.
  O velho senhor Halgul se espantou com o ato das crianças, atrapalhou-se com seu cachimbo, queimou-se com a brasa e caiu para trás da cadeira.
  - Ainda pego vocês seus moleques! – gritou o velho brandindo sua bengala.
  Eles correram sorrindo e se empurrando até chegarem ao Rio de Ferro. O rio era escuro e selvagem, levava esse nome pois todas as arestas ou peças que os Ferreiros não desejavam ou aproveitavam mais iam parar no rio, que espalhava e carregava os metais por toda sua extensão até a Baía das Algas. Nogard e Arwen sentaram-se ao lado do pequeno moinho de água, e do casebre  de pedras da vila.
  - Então você vai para a cidade amanha? – perguntou Arwen atirando pedrinhas na água.
  - Sim, não vai ter mais festa, meu aniversario foi substituído por essa viagem, minha mãe disse que tenho que aprender sobre o comércio mas não quero ficar fazendo armas, quero usa-las, imagine Arwen, todos aqueles cavaleiros e arqueiros, com suas armaduras em filas e mais filas de guerreiros, apenas esperando que os do Sul venham para defender o reino, essa viagem vai ser a melhor viagem de todas. – contou Nogard, sonhando alto e não reparando no rosto vermelho de inveja da amiga.
  - Como você pôde fazer isso comigo, pensei que fossemos amigos. – disse Arwen com os olhos cheios de lágrimas.
  Nogard ficou surpreso.
  - Mas Ar...
  - Não fale mais comigo. Nunca mais. – disse Arwen dessa vez chorando, e encolheu os joelhos próximo ao queixo.
  Nogard ficou quieto, não sabia o que fazer, pensou que Arwen ficaria feliz pela sua viagem com Merlon. Nogard gostava demais de Arwen para vê-la triste, e a coisa que mais o incomodava era vê-la chorar, não acredito que Arwen vai me obrigar a fazer outra traquinagem, pensou Nogard já com um plano mirabolante em mente, um plano tão absurdo que apenas uma criança poderia bolar.
  - Você já viu a carroça de Merlon? – perguntou Nogard, que recebeu como resposta os assobios desdenhosos de Arwen, que continuava jogando pedrinhas no rio.
  - É uma carroça grande, com espaço para muitas lanças deitadas e escudos nas laterais, apesar de ser uma carroça nova ela range demais para o meu gosto, possui um longo banco de condução e já vi inúmeras vezes Merlon trazendo até cem sacas de Vila dos Carvoeiros.
  Arwen continuava a assobiar e fingir que Nogard era um mosquito que lhe incomodava os ouvidos. Nogard quase riu da cara dela mas em vez disso levantou-se e fingiu que voltaria para a vila sozinho.
  - Que pena que você não conhece, eu diria que caberia até uma pessoa na bagagem e ainda sobraria espaço para todas as lanças de Lorde Grum.
  As pedrinhas pararam de cair no rio e os assobios desdenhosos silenciaram-se.
  - Espere – disse Arwen com um longo sorriso no rosto corado pelo choro -, esta falando sério? Acha que isso pode funcionar?
  Nogard deu de ombros.
  - Não custa nada tentar, a parte mais complicada vai ser quando voltarmos.
  - Não importa, ja terei visto os cavaleiros, e se convencer algum a me aceitar como escudeira ele virá pedir aos meus pais em nome do Rei, e eles não poderão negar.
  - Então acho melhor você acordar bem cedo amanha Arwen, porque vamos ver cavaleiros.
  Arwen deu um abraço em Nogard e agradeceu, ele se afastou dizendo que não precisava de tanto.
  E caminharam de volta para a vila quando estava começando a escurecer, era pouco mais de meio-dia.
  - Merlon chamou o filho de Pontur? – perguntou Arwen
  -Para a viagem?
  - Não, para ajuda-lo na forja, porque já esta escurecendo e você não foi para lá hoje.
  Nogard parou de caminhar, engoliu seco, olhou para os céus, fitou Arwen e pensou,pelos Dragões, eu esqueci.